terça-feira, 9 de junho de 2009

Amor Barato

Ela gostava de ficar andando nua pela casa depois que transávamos. Eu ficava olhando pensativo.
Com a luz apagada e seu corpo sendo iluminado apelas pela luz da Lua que entrava pela janela. Ela fingia procurar algo na parte de cima do guarda-roupa só para me provocar... ficava na ponta dos pés e os longos cabelos castanhos estendidos nas costas, e quando ela virava o pescoço eu via no canto de seus lábios um sorriso malicioso.
Aquelas noites sendo iguais, eram sempre diferentes uma das outras. Todas as noites ficávamos fazendo amor, conversando e as vezes ficávamos apenas olhando um ao outro, enquanto um de nós dormia. Ou então a madrugada passava em gritos e brigas sem sentido. Eu nunca soube e acho que nunca saberei se aquela era realmente ela. Se ali ela se libertava ou se entre risos e lágrimas não havia um teatro. Uma forma de sair da rotina ganhando dinheiro.
Não sei. E acho que nem quero saber. Eu estava de férias e tudo parecia maravilhoso de uma maneira estranha e real. Real porque tudo que é muito bom dura pouco. E foi assim que aconteceu.
Durante o verão meus ouvidos se deliciavam com sussurros ou gemidos dela, com o bater das ondas nas pedras e a brisa abrindo de leve a cortina do quarto. Meus olhos eram feitos para os dela e para a pouca luz que entrava pela sacada e pela cortina que parecia relíquia vinda de algum lugar praiano do México ou de Cuba. E minhas mãos e boca eram dela. Dos seus seios, pequenos e convidativos. Do seu longo cabelo. De suas grossas e lindas pernas que se entrelaçavam no meu quadril enquanto meu corpo pesava no seu, e eu sentia seu cheiro em meio ao cheiro natural de sexo que impregnava o lugar. Era tudo como se fosse lua-de-mel.
Mas o sol me trazia luz e me tirava ela.
Eu abria minha carteira, pagava o que tinha que pagar e ela agradecia profissionalmente.
E daquele jeito lindo e trágico acabava mais uma noite de amor barato.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Sangue Latino


Teu fim chegou cedo irmão,
pois o corpo não corresponde à grandeza do espírito.
Mas lutavas como um homem com a ternura de um menino,

e mostrou ao mundo o poder do nosso sangue latino.

Viveu sabendo que só se vive uma vez e que as chances são poucas.
Batalhou pela igualdade e foi um líder inteligente e astuto.
Mas acorda Che, tua guerra já acabou em meio às baforadas do seu charuto.
Não precisa mais se embrenhar no meio da selva,
depois de seus feitos o mundo já não está tão perdido.
E você finalmente descobriu que bala não atravessa apenas peito de bandido.
Mas a Revolução já foi feita...

dentro do coração de jovens sonhadores,
rabiscada nos muros da cidade,
e tatuada na alma dos que amam e odeiam a guerrilha.
E estará sempre presente na história e na memória de quem se indigna perante uma injustiça.
Por isso somos irmãos.



quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Correnteza

Estou sentado aqui na grama sozinho, sem ninguém por perto, encostado numa árvore, olhando o horizonte, com a visão meio embaçada pela fumaça do cigarro que queima na minha boca, que queima minha garganta, meu interior...esquentando o que já há algum tempo está frio.
Observo dois galhos que fluem juntos com a leve correnteza do rio frio e escondido que está a alguns metros de mim. Queria que um dia nós voltássemos a nos encontrar, e pudéssemos percorrer, juntos, um caminho que nos mantivesse unidos, assim como esses dois galhos, que sendo diferentes e imperfeitos, se encontraram num momento qualquer, se entrelaçaram e passaram a ser levados pela força maior da água em que estavam, guiados a alguma direção, ao tudo ou ao nada. Quem dera eu ser guiado junto com você a alguma direção...
Mas eu estou aqui sentado sob um sol de fim de tarde, sozinho. Tentando encurtar a distância dos desejos do coração e da cabeça. Pensando no que eu fiz da minha vida e no que a vida fez de mim.
Não dá pra dizer que eu deixei a correnteza me levar (assim como os dois galhos são levados) e deu no que deu. Não foi assim. Fiz minhas escolhas e algumas deram drasticamente erradas. Me resta agora ter esperança no futuro, mesmo que seja uma breve esperança. Esperança de um dia, do seu lado, aprender a amar. Aprender a te amar.